LIÇÕES BÍBLICAS CPAD

JOVENS E ADULTOS

 

 

2º Trimestre de 2001

 

Título: Sermão do Monte — A transparência da vida cristã

Comentarista: Geremias do Couto

 

 

Lição 8: O padrão da vida pessoal com Deus

Data: 20 de maio de 2001

 

TEXTO ÁUREO

 

Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará(Mt 6.6).

 

VERDADE PRÁTICA

 

Ao tratar da solidariedade, da oração e do jejum, o Senhor demonstra mais uma vez que sua rejeição à formalidade da aparência, mas atenta para a sinceridade do coração.

 

LEITURA DIÁRIA

 

Segunda — Gl 2.20

A entrega pessoal

 

 

Terça — Mt 16.24-26

A vida de renúncia

 

 

Quarta — Cl 4.2,3

A vida de oração

 

 

Quinta — 2Tm 2.15

O amor à Palavra

 

 

Sexta — Mt 6.19-21

O apego aos valores espirituais

 

 

Sábado — Ap 2.10

A garantia da recompensa do Senhor

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

 

Mateus 6.1-8,16-18.

 

1 — Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.

2 — Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

3 — Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita,

4 — para que a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.

5 — E, quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

6 — Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará.

7 — E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que, por muito falarem, serão ouvidos.

8 — Não vos assemelheis, pois a eles, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário antes de vós lho pedirdes.

16 — E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, porque desfiguram o rosto, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

17 — Porém tu, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto,

18 — para não pareceres aos homens que jejuas, mas sim a teu Pai, que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará.

 

PONTO DE CONTATO

 

De forma geral, nossa tendência é exaltar as boas obras, sem contudo, analisar as intenções na realização delas. Costumamos medir o padrão de espiritualidade das pessoas a partir do exterior. O Mestre, na continuação do seu sermão, questionou a validade de determinados atos religiosos em público, exaltando as boas atitudes que apenas Deus pode ver, em relação à solidariedade, à oração e ao jejum. Deus não se prende às formalidades nem às aparências, mas se importa com o que acontece no recôndito de cada pessoa, valorizando assim o relacionamento íntimo e particular entre Ele e o crente. O mais importante não é ter as nossas obras reconhecidas e valorizadas pelos homens, mas sobretudo por Deus.

 

OBJETIVOS

 

Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:

  • Praticar a solidariedade cristã como um meio de abençoar as pessoas e não de satisfazer os seus interesses pessoais.
  • Reconhecer a oração como um canal de comunicação com Deus, através do qual podem falar com o Pai e também ouvir-lhe a voz.
  • Admitir que o jejum bíblico é um ato de entrega pessoal a Deus, reconhecendo-lhe a soberania sobre todas as coisas.

 

SÍNTESE TEXTUAL

 

Na continuação do sermão do monte Jesus incentivou os seus discípulos a praticarem a solidariedade. O que é solidariedade? De que modo pode ser experimentada e demonstrada pelo crente? Da maneira como foi ensinada por Jesus inferimos tratar-se de um vínculo de reciprocidade que deve existir entre os cristão sinceros, sem expectativa de recompensa e reconhecimento dos homens. A solidariedade deve basear-se exclusivamente no autêntico amor cristão. Outrossim, o princípio da solidariedade entre os irmãos foi considerado por Cristo como uma forma de adoração a Deus.

A outra lição legada por Cristo trata da verdadeira oração. A oração não pode ser um ritual vazio de significado, mas sim, um ato pessoal, sincero e, como o jejum, agradável aos olhos do Senhor.

 

ORIENTAÇÃO DIDÁTICA

 

Divida sua classe em três grupos. Com base no texto bíblico da lição, peça ao primeiro grupo que discuta acerca da solidariedade cristã. Ao segundo, peça que debata sobre a maneira mais eficaz de se aproximar de Deus através da oração (abordando a forma exterior), e ao terceiro grupo, peça que discuta acerca da forma correta de jejuar.

Utilize o quadro abaixo para direcionar a discussão dos grupos. Dê-lhes cinco minutos para conversarem e peça que apresentem resumidamente suas conclusões.

 

 

COMENTÁRIO

 

INTRODUÇÃO

 

Na sequência do Sermão do Monte, o Senhor trata agora de três temas que se interdependem e revelam o padrão de nossa vida pessoal com Deus: a solidariedade, a oração e o jejum. Nos três casos, como nas questões anteriores já tratadas, outra vez a abordagem condena a formalidade da aparência para focalizar que o mais importante não é ter os nossos atos vistos e reconhecidos pelos homens, mas sobretudo por Deus.

 

I. A GRAÇA DA SOLIDARIEDADE CRISTÃ

 

1. A solidariedade cristã não é um fim. O princípio da solidariedade, que nos leva a estarmos sempre prontos para ajudar o próximo, é uma característica essencial da vida cristã. Tal é a sua importância que o Senhor, no Sermão do Monte, traz o assunto à tona, condenando a atitude farisaica de valorizar o aspecto exterior do ato apenas com o propósito de receber o reconhecimento humano (v.1).

A expressão empregada — fazer esmola — não deve ser compreendida como um simples gesto de estender a mão ao pedinte, à beira da calçada, mas como simbolizando o papel da caridade nos relacionamentos humanos.

2. A solidariedade cristã não busca o reconhecimento pessoal. Fica implícito, também, que ajudar o próximo, do ponto de vista cristão, não é para ser trombeteado aos quatro cantos para que nos reconheçam como profundamente interessados pela causa do necessitado (v.2).

Ser solidário não pode, também, ter como contrapartida a expectativa de receber alguma coisa em troca de quem é alvo de nossa solidariedade. A parábola do bom samaritano é um bom exemplo, pois este jamais poderia esperar receber qualquer tipo de reconhecimento do ferido à beira do caminho. Foi uma ajuda desinteressada (ver Lc 10.30-37; 6.35).

3. A solidariedade cristã não visa fins políticos. Vale também acrescentar outra distorção da solidariedade muito em voga nos dias atuais, conhecida nos meios políticos como clientelismo. É aquela em que o bem é apenas uma moeda de troca que determinados candidatos utilizam em busca da eleição. Eles ajudam o indivíduo esperando receber o voto, sem jamais pensar nos interesses da comunidade, mas em como tirar vantagem do exercício do mandato.

Esse tipo de solidariedade tem o mesmo valor da prática dos fariseus: só serve para a autoglorificação, pois em nada contribui para o aperfeiçoamento das instituições.

4. A solidariedade cristã é um meio de adoração a Deus. Após condenar a atitude arrogante e egocêntrica dos fariseus, o Senhor trouxe a solidariedade para o seu verdadeiro lugar: um ato de adoração a Deus, que recompensa, publicamente, àqueles que de forma desprendida estendem a mão ao próximo (vv.3,4).

 

II. O VALOR DA ORAÇÃO VERDADEIRA

 

1. A oração verdadeira não visa o exterior. A seguir, o Senhor tratou da oração verdadeira, cuja principal característica é ser um canal de comunicação com Deus. Orar é falar com o Pai e também ouvir-lhe a voz. É uma via de mão dupla, onde lhe dirigimos o nosso clamor, e ele, ao mesmo tempo, dialoga conosco (ver Jr 33.3).

Assim, o Senhor condenou os fariseus por tornarem a oração um instrumento de orgulho religioso (v.5), com ênfase no exterior para transparecer piedade, enquanto o coração, na verdade, permanecia envolto em hipocrisia. Por isso, Jesus os chamou, certa vez, de sepulcros caiados (Mt 23.27). Vistosos por fora, mas imundos por dentro.

2. A oração verdadeira não é ritualística. Como se vê, na visão farisaica a oração era meramente formal, constituída de rituais, os quais tinham mais valor do que o conteúdo da própria oração. Segundo nos informa a tradição judaica, chegavam a orar dezoito vezes ao dia, em horários predeterminados, nas ruas, sinagogas ou praças, repetindo fórmulas que nada acrescentavam à vida de espiritualidade.

3. A oração verdadeira é um ato pessoal. Mas a verdadeira oração é um ato pessoal entre o ser humano e Deus e não comporta nenhum outro tipo de direcionamento. Entrar no aposento, como ensinou Jesus (v.6), tem o sentido primário de nos estimular à devoção diária, mas também demonstra que a oração é algo que cada crente precisa levar a sério na privacidade de sua vida pessoal.

Por outro lado, não é o tom de voz, a linguagem rebuscada, nem mesmo os artifícios guturais que determinam a espiritualidade da oração. Ainda que seja apenas um sussurro, mas se estiver brotando de um coração sincero o seu valor transcende a qualquer pretensão formalista (ver 1Sm 1.12-18; Lc 18.9-14).

4. O modelo da oração verdadeira. Por último, o Senhor se reporta às “vãs repetições” dos gentios para exemplificar que jamais devemos seguir esta fórmula, que nada mais é do que a repetição pura e simples do mesmo palavreado ritualístico todo o tempo, onde não há lugar para a espontaneidade do coração.

Em razão disso, o modelo da oração do Pai nosso ensinado por Jesus, no Sermão do Monte, jamais deve ser interpretado como um ritual para ser meramente repetido em nossa prática devocional e, sim, para identificar os componentes da verdadeira oração a Deus (ver Mt 6.9-13).

 

III. A IMPORTÂNCIA DO VERDADEIRO JEJUM

 

1. O jejum não tem sentido penitencial. Para fechar essa tríplice verdade sobre o padrão de nossa vida pessoal com Deus, o Senhor acrescentou também o jejum, além da solidariedade e da oração, corrigindo as distorções dos fariseus, que davam conotação meramente penitencial a essa prática.

2. O jejum não visa a autoglorificação. O jejum também não visa a autoglorificação, para parecer aos homens que somos mais espirituais e, por isso, desfrutarmos de maiores privilégios em nossa relação com Deus (v.16).

Infelizmente, costuma-se medir a espiritualidade das pessoas, entre outros fatores, pelo número de vezes que jejuam e pela forma como se expõem diante do povo. Mas, queiramos ou não, essa atitude foi radicalmente condenada por Jesus por ser portadora de orgulho espiritual, o que, por si só, torna sem valor qualquer iniciativa do gênero (cf. Sl 101.5; 138.6).

3. O jejum é um ato de entrega pessoal. Para o Senhor, o jejum é um ato de entrega pessoal, uma questão entre a pessoa e Deus, e não para enriquecer o currículo de feitos admiráveis para serem aplaudidos pelos homens (vv.17,18).

Quem jejua o faz para Deus, como parte do seu culto racional (ver Rm 12.1), para manifestar-lhe, com esta conduta, que a sua vida lhe pertence. Em outras palavras, é um ato de plena adoração ao Senhor e busca da sua face, em renúncia e quebrantamento de espírito, sem a intenção de reivindicar lugar de proeminência espiritual.

Pelo contrário, o verdadeiro jejum leva o crente ao caminho da humildade, porque, em suma, reconhece a soberania divina sobre sua vida (At 13.3).

 

CONCLUSÃO

 

Portanto, ao tratar dessa tríplice verdade — a solidariedade, a oração e o jejum — o Senhor pós mais uma vez a questão da espiritualidade em seu verdadeiro lugar: tudo o que se restringe apenas à aparência, não provindo do coração, não tem valor espiritual algum diante de Deus.

 

AUXÍLIOS SUPLEMENTARES

 

Subsídio Teológico

 

Jesus mostra, nesta seção do Sermão do Monte, que atos piedosos podem ser mal-interpretados e adulterados pelos homens. Os exemplos que o Mestre apresenta são o ato de dar esmolas, a oração e o jejum.

Ele sabia que esses atos podiam fazer com que o povo admirasse e exaltasse as pessoas que os praticam. Jesus não condena os atos — pois são sinais de piedade — mas sim as consequências dos mesmos quando executados sem os motivos corretos. À primeira vista, nada há de errado em dar ofertas, orar em público ou jejuar. Entretanto, sabendo que os homens julgam o que conseguem ver, e Deus julga as nossas motivações, Jesus advertiu que tais atos não devem ser feitos de forma indigna.

Existe um julgamento e um certo grau de justiça na prática desses atos, quando feitos sem ostentação. Deus e também os homens nos julgam e nos recompensam. No caso dos homens, a glorificação é terrena, temporária e exalta a pessoa que pratica a boa ação. No caso de Deus, a recompensa é celeste, eterna e exalta aquele que pratica a boa ação, porém, de acordo com a intenção do ato praticado. Deus enxerga o íntimo, e não apenas o exterior.

A justiça feita por causa de uma exibição — seja ela dar esmolas, orar em público ou jejuar desfigurando o rosto — já teve seu pagamento. Deus não é obrigado a dar uma segunda retribuição. Basta ao tal “justo” o prêmio dos homens. Quanto aos que se enquadram nas definições de Jesus de como fazer tais obras, é certo que serão vistos por Deus, mesmo que não o sejam pelos homens. Temos garantia, nas palavras de Jesus, de que o próprio Deus se responsabiliza por recompensar as nossas esmolas, orações e jejuns.

 

 

Subsídio Doutrinário

 

A epístola de Tiago trata com bastante propriedade do tema, reafirmando o ensino de Cristo e vinculando as obras à fé (ver Tg 2.14-26), sem deixar qualquer vestígio de que a solidariedade seja um fim em si mesmo, somente para cumprir um ritual religioso.

Um ponto que se destaca no texto desta lição é a afirmação de que não saiba a mão esquerda o que fez a direita (v.3). A ideia, aqui, é de total despojamento, pois, além de não criarmos a expectativa do reconhecimento alheio, não nos é próprio orgulharmo-nos em nós mesmos, achando-nos mais importantes do que os demais, por qualquer ato de ajuda prestado, que é, sobretudo, resultado da bênção de Deus sobre a nossa vida.

 

GLOSSÁRIO

 

Contrapartida: Compensação, equivalência.

Currículo: Conjunto de dados concernentes ao estado civil, ao preparo profissional e às atividades anteriores de quem se candidata a um emprego.

Distorção: Ato de distorcer, mudar o sentido, a intenção.

Egocêntrico: Aquele que refere tudo ao próprio eu.

Implícito: Subentendido, o que está envolvido, mas não de modo claro.

Palavreado: Conjunto de palavras com pouco ou nenhum nexo e importância.

Penitencial: Relativo à penitência, expiação.

Portadora: Que porta ou conduz.

Proeminência: Superioridade, preeminência.

Reivindicar: Reaver, readquirir, recuperar.

Vistoso: Agradável à vista, admirável.

 

QUESTIONÁRIO

 

1. O que simboliza a expressão “fazer esmola” empregada por Jesus?

R. Simboliza o papel da caridade nos relacionamentos humanos.

 

2. Que epístola reafirma o ensino de Cristo, vinculando as obras à fé?

R. A epístola de Tiago.

 

3. Segundo o comentário, qual a melhor definição de oração?

R. A oração é um meio de comunicação com Deus, através do qual falamos com o Pai e também podemos ouvir-lhe a voz.

 

4. A expressão “entrar no aposento”, utilizada por Jesus, significa:

R. c) levar a oração a sério na privacidade da vida pessoal.

 

5. O jejum deve ser compreendido como:

R. b) um aio de entrega pessoal, reconhecendo a soberania divina.